Saúde Mental – Uma questão da Rede Internacional Ma(g)dalena

            Quando falamos de Saúde Mental é muito raro que falemos de Saúde, estamos sempre sendo levadas a pensar em doenças, em tratamentos, em medicações , em  formas inumanas de lidarmos com a diferença ou o que socialmente chamam de “anormalidade”, Loucura. Individualizamos as razoes que nos enlouquece , isentando o sistema capitalista de sua responsabilidade na produção de Loucuras  a partir um funcionamento desumanizador, baseado na exploração e lucro . 

            Devemos questionar as relações entre o poder medico (manicomial,psiquiátrico, psicológico e medicamentoso) e outras formas de poder. Por isso traçamos um fio condutor que liga  o poder do patriarcado e seus diferentes mecanismos de poder : sexismo, racismo, gordo fobia, homofobia, xenofobia , apropriação cultural , trabalho precário.

            Se os mecanismos de poder trabalham de modo a esconder seu próprio funcionamento, analisar esses mecanismos e os meios através dos quais tornam sua própria existência invisível é fundamental para produzir técnicas de resistência.

            Buscamos, registrar nessa primeira conversa, os mecanismos de poder que tem o  objetivo de controlar e reprimir as pessoas, em especial as mulheres que não respondem aos interesses do sistema capitalista e que servem também aos interesses racistas e patriarcais. Nos fizemos muitas perguntas: O que é loucura? o que nos enlouquece?

Tateamos algumas respontas , levantando outros questionamento .

            A exigência de produtividade ligada a fazer muito em tao pouco tempo. Num tempo que não é o nosso , numa urgência que não é a a nossa, baseada em muitas competência que não adquirimos . Essa produção a galope vem acompanhada da pressão do perfeccionismo. Esse perfeccionismo estende-se para tudo que  a sociedade estabeleceu que deve nos concerné como mulher: para  nós mulheres, os limites sao bem  rígidos, temos que nos   encaixar no que é  ser mulher, mãe , esposa, bela, inteligente, eficaz, eficiente, sexualmente uma bomba, se tentamos buscar autonomia dessas pressões sociais e de tantas outras, essas manifestações de autonomia e liberdade são vistas como  sinais de demência e desequilíbrio mental. E nos perguntamos: porque seguir correndo atras de uma perfeição que sabemos jamais sera atingida? Porque entramos dentro dessa padronização que cala o corpo – levando-nos a não ter nem mesmo o  direito ao nosso próprio corpo ? O que produz em nossas mentes um trabalho de exploração e desvalorização diária , como o trabalho das empregadas domesticas?

            Seguimos na reflexão, atentiva a descobertas, cheias de urgências a partilhar.  Que corpo é esse ? Impregnado de Etiquetas sociais que nos dizem :  como temos que ser , nos alimentar. Associando a ideia de beleza a imagem de um corpo magro e esbelto. Essa conjugação de ideologias tem como consequência a  busca eterna pela perda de peso, a neura da obesidade,esvasia o sentido de nutrição. E gera para o capitalismo uma  fonte inesgotável de renda: Salas de ginastica com tudo que a compõe ( roupas, sucos, equipamento, profissionais, medicações, tratamento para emagrecer ect). Nossos corpos e nossas mentes tornam-se uma fonte inesgotável de produção de riquezas e lucros e mais lucros, onde o que menos importante é o ser humano: O business da Saúde Mental (industrias de medicamentos e outras industrias oportunistas),  o mercado de alimentação alternativa,  a industria de esportes, os espaços de cura/cuidado.

            O que é a cura? Quem cuida de quem? Para que? O que é cuidado? Cuidar-se não é vestir-se com o corpo da outra ( procedimento estético invasivo ). Ao mesmo tempo que  a nos mulheres é imposta a tarefa de cuidar de todos , de todas e de tudo , com o acumulo e sobrecarga de trabalho não conseguimos  priorizar o cuidar- nos . O que nos levou a pensar na privatização e apropriação cultural de nossos saberes ancestrais: a apropriação de plantas medicinas  que hoje são vendidas em pacotes, extratos, fazem parte de composições medicamentosas e são vendidas a altos custos, gerando mais e mais lucros para o sistema capitalista que auto-se alimenta.  Estamos focadas no conceito de patologia, produzindo doenças e mais doenças que geram mais empregos, mais industrias , que criam ainda mais necessidades. Quais necessidades? A quem serve todo o sistema de Saúde mental?

             Servimos de cobaias vivas, para testagem de medicação, laboratório de estudo de novas teorias, corpo -livros , contidos , dopados, que se transformam em objetos de estudo para os novos Doutores especialistas.Em muitos países pobres ainda são utilizados medicamentos que já estão proibidos na Europa – em que corpos a industria farmacêutica prova suas substancias e procedimentos? Quais os corpos que são selecionados para pesquisa  humanos de laboratório?

            Quando falamos de Saúde Mental, existe um grande vazio: como são criados os diagnósticos? O que esta por trás de cada conceito de patologia? Esse diagnostico também esta ligado a classe social, ao pais de origem da louca. O sistema capitalista quer nos levar a crer que não existe conexão entre Loucura  ( esse é um processo de adoecimento de uma pessoa) e o contexto social em que estamos inseridas. Queremos aprofundar a pesquisa e reflexão desses mecanismos que foram criados para produzir loucura e gerar lucro. Queremos debater  saúde sobre uma perspectiva interseccional, onde os temas racismo e gênero, sejam evidenciados, analisar o que tem causado o aumento da depressão pós – parto ( a solidão da mulher ao ter o filho e cuidar dele), como compartilhar nossa subjetividade associando-a ao objetivo em movimentos feministas, construir juntas formas de repudiar/denunciar/negar teorias de controle , como por exemplo : a obrigatoriedade de tomar hormônios no período da menopausa. A medicação como única forma de tratamento psiquiátrico. Obesidade e saúde mental , quais as consequências? Quem tira proveito de tudo isso? Quanto custa? Quais os mercados se beneficiam com o tal sistema de saúde mental? é possível visibilizar os Lobis e o monopólio dessa grande industria mundializada, e a competição entre elas? Quantos traumas estão imbricados dentro drogadicção e nas tantas outras dependências que nos enlouquece? Como estimular a sistematização de toda essa reflexão? Abrir espaço para o erro no processo de aprendizado, sem julgamentos e culpabilização e possível?

            Queremos dar visibilidade ao silenciamento de todos esses temas, que coloca muitas mulher na etiqueta de louca- sem razão, a ideia não é fazer terapia , é perguntar como estamos. Questionar   o direito a saúde , numa sociedade onde o único direito respeitado é o direito ao consumo. Para entender como esse sistema patriarcal vem nos afetando e adoecendo . E como tudo isso  influencia nossa participação ativa dentro da militância, dentro do TO, dentro da rede Ma(g)dalena, em nossas áreas de atuação. No nosso trabalho : existe legitimidade / certeza do que estamos fazendo? – Como reproduzimos as coisas que no TO estamos tentando transformar? – propostas: – ter um espaço para o tema da saúde mental no próximo encontro para ter a possibilidade de nos perguntarmos como estamos,pensar  se  espaço de cuidado , pode ser criado em nossos momentos coletivo – criar um grupo de e-mail – trocar livros e textos, por exemplo: “La loucura lo-cura” – buscar ver a loucura como uma forma saudável de não se adaptar a um sistema adoecido

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